Por que Empreender não é para Todo Mundo (e está tudo bem)
Empreender virou palavra de ordem no Brasil. Todo dia aparece um novo debate acalorado nas redes sociais: é melhor empreender ou buscar estabilidade no CLT? Enquanto isso, o número de novos CNPJs não para de crescer, mas ao mesmo tempo muita gente ainda procura desesperadamente por uma vaga de emprego formal.
A verdade? Não existe resposta certa aqui. Não existe um caminho melhor que o outro de forma absoluta. O que existe é o caminho que faz sentido para você, no momento em que você está vivendo, com os recursos que você tem disponíveis.
Essa é a conversa que precisamos ter de verdade, sem romantização e sem demonização de nenhum dos lados.
A Realidade Nua e Crua do Empreendedorismo
Todo mundo adora falar que empreender é sinônimo de liberdade. E de certa forma é mesmo. Mas nem sempre. Na verdade, quase nunca nos primeiros anos.
Por trás daquelas postagens bonitas no Instagram mostrando o escritório descolado e a rotina flexível, existe uma realidade bem mais dura. Riscos financeiros reais, jornadas de trabalho que facilmente passam das 12 horas por dia, meses sem tirar um centavo de lucro, e zero garantias de que vai dar certo.
O empreendedor precisa se virar em várias funções, principalmente no começo. Você é o vendedor, o financeiro, o marketing, o atendimento ao cliente, o entregador, o faxineiro. Tudo ao mesmo tempo. E precisa ser bom em tudo isso, ou pelo menos competente o suficiente para não afundar o negócio.
Não estou dizendo isso para desanimar ninguém. Estou dizendo porque é importante você entrar nesse jogo sabendo exatamente o que te espera. Empreender não é aquele conto de fadas que alguns gurus da internet vendem.
Mas Também é Onde Mora a Oportunidade
Agora, tendo dito tudo isso, empreender também é onde mora a verdadeira autonomia. É a chance de construir algo com a sua cara, do seu jeito, seguindo seus valores e suas crenças.
É a possibilidade de colher resultados diretamente proporcionais ao seu esforço. Trabalhou mais, planejou melhor, executou com excelência? Os resultados vêm. Não tem teto, não tem limite artificial de crescimento imposto por uma estrutura corporativa.
Você toma as decisões. Você escolhe com quem trabalhar, que tipo de cliente atender, que produto oferecer. Essa liberdade tem um peso enorme quando você realmente valoriza autonomia na sua vida.
E tem mais: empreender força você a crescer como pessoa de um jeito que poucos ambientes conseguem fazer. Você aprende a se virar, a resolver problemas que nunca imaginou que teria, a lidar com pressão e incerteza. Isso molda caráter de uma forma única.
O CLT não é uma Prisão
Aqui entra um ponto que é constantemente esquecido nesse debate todo: o emprego formal não é necessariamente uma prisão. Pode ser, se você deixar. Mas também pode ser uma escola fantástica.
O CLT não te paga apenas com salário. Ele te paga com conhecimento, com processos estruturados, com visão estratégica e muitas vezes até com mentoria indireta de bons líderes. Se você souber aproveitar, um emprego formal é uma das melhores universidades que existem para quem quer empreender um dia.
Sabe quantos grandes empresários bem-sucedidos começaram como CLT? A maioria deles. Eles usaram esse tempo para observar como uma empresa funciona por dentro, para entender processos, para aprender com os erros dos outros sem gastar o próprio dinheiro.
Trabalhar com carteira assinada enquanto você se prepara para empreender é uma estratégia inteligente. Você tem um salário garantido no final do mês, consegue pagar suas contas com tranquilidade, e ainda pode usar esse ambiente para absorver tudo que for possível sobre gestão, vendas, atendimento e operação.
Ser CLT com Cabeça de Empreendedor
Existe uma diferença gigante entre ser apenas um funcionário e ser um CLT com mentalidade empreendedora.
O funcionário comum cumpre o horário, faz o básico, não se envolve além do necessário, e espera que alguém diga exatamente o que fazer. O CLT com cabeça de empreendedor está sempre atento, sempre aprendendo, sempre buscando entender como cada peça do negócio funciona.
Esse cara pergunta, questiona, oferece ideias, assume responsabilidades além do cargo dele. Não porque quer puxar o saco do chefe, mas porque está usando aquele ambiente como laboratório para desenvolver habilidades que vai precisar quando abrir o próprio negócio.
Você pode empreender dentro de uma empresa. Pode trazer inovação, melhorar processos, criar projetos novos. Muitas empresas valorizam e recompensam esse tipo de atitude. E mesmo que não valorizem, você está acumulando experiência valiosa que ninguém tira de você.
O Perigo do Piloto Automático
O grande problema não é escolher entre empreender ou ser CLT. O grande problema é viver no piloto automático esperando que o mercado decida seu destino por você.
Muita gente se acomoda no conforto relativo do salário fixo e esquece completamente de traçar metas, de fazer planos, de pensar no futuro. Passa anos e anos fazendo a mesma coisa, recebendo os mesmos aumentos salariais medíocres, sem nunca questionar se aquilo está te levando para algum lugar.
Do outro lado, tem empreendedor que abre negócio porque está na moda, porque viu alguém ganhando dinheiro e achou que seria fácil, sem fazer planejamento nenhum, sem entender o mercado, sem se preparar. Resultado? Fecha em menos de um ano e ainda fica endividado.
Nos dois casos, o problema não é a escolha em si. É a falta de consciência e de movimento intencional.
Não Existe Crescimento sem Intenção
Seja qual for o caminho que você escolher, ele precisa ter propósito. Precisa ter direção. Precisa estar te aproximando de alguma visão de futuro que você construiu para sua vida.
Se você está no CLT, tem que ter um plano. Pode ser um plano de crescer dentro da empresa, de acumular conhecimento para empreender depois, de juntar dinheiro para fazer uma transição segura. Mas tem que ter plano.
Se você está empreendendo, precisa ter estratégia. Precisa saber onde quer chegar, quanto tempo está disposto a investir antes de colher resultados, qual é o plano B se as coisas não derem certo no tempo esperado.
O sucesso não vem para quem fica esperando. Vem para quem age com intenção, com paciência e com vontade genuína de aprender. Aí sim, o sucesso deixa de ser promessa vaga e vira resultado concreto.
Qual é o Seu Momento?
Antes de decidir qualquer coisa, você precisa fazer uma avaliação honesta do seu momento atual.
Você tem reserva financeira para aguentar meses sem renda? Você já entende minimamente do mercado onde quer atuar? Você tem estrutura emocional para lidar com a montanha-russa que é empreender?
Se a resposta for não para essas perguntas, talvez o melhor caminho seja buscar um emprego primeiro, aprender, se preparar, juntar dinheiro, e aí sim fazer a transição quando estiver mais preparado.
Por outro lado, se você está num emprego que não te ensina mais nada, que não te desafia, onde você já aprendeu tudo que tinha para aprender, talvez esteja na hora de dar o próximo passo. Seja buscando uma posição melhor em outra empresa, seja finalmente empreendendo.
O importante é que a decisão seja consciente, baseada na sua realidade, não em modinha de rede social ou pressão externa.
O Caminho é Seu
No final das contas, ninguém vai viver sua vida por você. Ninguém vai pagar suas contas se você falir. Ninguém vai te sustentar se você ficar desempregado.
Por isso, a decisão precisa ser sua. Baseada no que você quer construir, no que você valoriza, no momento que você está vivendo.
Não existe vergonha nenhuma em ser CLT a vida inteira se isso te deixa feliz e te proporciona a vida que você quer ter. Assim como não existe mérito automático em empreender se você está fazendo isso pelos motivos errados.
O que importa é você estar no comando da sua trajetória. Fazendo escolhas conscientes. Construindo um caminho que faça sentido para você.
Com atitude, paciência e vontade de aprender, qualquer um dos caminhos pode te levar longe. A questão é: para onde você quer ir?
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